CanaisLançamentosVisuais

A fotógrafa Claudia Andujar em mostra de tirar o fôlego no IMS

Colaborando com a RAIZ

A mostra retrospectiva da fotógrafa e ativista Claudia Andujar dedicada aos Yanomami, no IMS Paulista, apresenta o extenso trabalho da artista, além de livros e documentos sobre a trajetória dos Yanomami em busca de sua sobrevivência.

A exposição apresentada no IMS Paulista entre dezembro de 2018 e abril de 2019, e no IMS Rio entre julho e novembro de 2019, conta com 300 imagens e traça um panorama do trabalho de Andujar junto aos Yanomami, retomando aspectos diferenciados da vida da fotógrafa, como sua luta pela demarcação de terras indígenas, militância que a levou a unir sua arte à política.

Tratando-se de mais uma obra gigante e reveladora da nossa identidade mais profunda, o olhar estrangeiro e tão brasileiro de Andujar levou a redação da Raiz lembrar de entrevista com o Olivier Anquier em que ele falava que “estamos cegos de tanto ver”, tanta riqueza ameaçada no Brasil. Mas, percebendo a importância dessa exposição, entendemos é que estamos cegos de tanto esconder. Revelar, apresentar, por na roda portanto, ainda mais dentro de um contexto histórico tão bem cuidado é de se destacar.

A seleção do material exposto é resultado da pesquisa de muitos anos realizada pelo curador Thyago Nogueira, coordenador da área de fotografia contemporânea do IMS, no acervo de mais de 40 mil imagens da artista.

Claudia Andujar - IMS - Divulgação
Claudia Andujar – IMS – Divulgação

No primeiro andar está a fase inicial da carreira de Andujar, com fotografias produzidas entre 1971 e 1977 na região do Catrimani, em Roraima.

Um dos conjuntos mais impactantes do período é o registro das festas reahu, as complexas cerimônias funerárias e de aliança intercomunitária, marcadas por ritos específicos e pela fartura de comida. Para produzir as fotos, tentando relacionar o que via com a dimensão mística presente nos rituais, Andujar desenvolveu experimentos fotográficos em São Paulo, com flashes, lamparinas e filmes infravermelhos, que depois aplicou na mata. As imagens traduzem o universo espiritual, dando forma concreta a um mundo abstrato. “Ao interpretar com imagens, e não palavras, como faziam a antropologia e o jornalismo, Andujar também oferecia uma nova camada de significados”, afirma Nogueira.

Depois de algum tempo, a aproximação com os Yanomami também levou a fotógrafa a propor que eles próprios representassem seu universo. Em 1974, com a ajuda de Zacquini, levou ao Catrimani papéis e canetas hidrográficas e deu início a um projeto de desenho, ampliado dois anos depois com uma bolsa da Fapesp. Cerca de 30 desenhos originais de mitos e cenas do cotidiano Yanomami serão apresentados na mostra. Em 1977, Andujar foi expulsa e impedida de voltar à área indígena pela Funai.

Claudia Andujar - IMS - Divulgação
Candinha e Mariazinha Korihana thëri limpam mutum, cujas penas são usadas para emplumar flechas, Catrimani, Roraima, 1974. Foto © Claudia Andujar

O segundo andar mostra o contato radical da civilização branca com a indígena, e a luta da fotógrafa para proteger o povo que, entre os anos 1970 e 1980, corria o risco de desaparecer diante das doenças, violência e poluição causadas pelo garimpo e pelos planos de desenvolvimento da Amazônia durante o governo militar. 

Em uma de suas séries mais conhecidas, fotografou Yanomami de várias regiões para identificar os cadastros de saúde e vacinação. As fotos numeradas se transformaram na série Marcados, exibidas na 27ª Bienal de Arte de São Paulo e no exterior. A retrospectiva no IMS Paulista apresenta novos conjuntos dessa série, com uma contextualização sobre os lugares onde os retratos foram feitos.

Esses retratos numerados evocam momentos sombrios da história do século XX, como o Holocausto, associado à trajetória da própria artista. “Criamos uma nova identidade para eles, sem dúvida, um sistema alheio à sua cultura. São as circunstâncias desse trabalho que pretendo mostrar por meio destas imagens feitas na época. Não se trata de justificar a marca colocada em seu peito, mas de explicitar que ela se refere a um terreno sensível, ambíguo, que pode suscitar constrangimento e dor”, afirma a fotógrafa.

Outro destaque da mostra é uma nova versão da instalação Genocídio do Yanomami: morte do Brasil (1989/ 2018), manifesto audiovisual em 16 telas, que apresenta uma retrospectiva do trabalho de Andujar, incluindo fotos tiradas entre 1972 e 1984.

Antônio Korihana thëri sob o efeito do alucinógeno yãkoana, Catrimani, Roraima, 1972-1976. Foto © Claudia Andujar
Antônio Korihana thëri sob o efeito do alucinógeno yãkoana, Catrimani, Roraima, 1972-1976. Foto © Claudia Andujar – Divulgação

CLAUDIA ANDUJAR

Claudia Andujar (1931) cresceu na Europa, na região da Transilvânia, de onde escapou para a Suíça durante a Segunda Guerra Mundial. Sua família paterna, de origem judaica, foi morta nos campos de concentração de Auschwitz e Dachau. Emigrou da Suíça para os Estados Unidos e depois, em 1955, para o Brasil. Aqui, começou a fotografar e construiu uma carreira bem-sucedida no jornalismo. Em 1971, aos 40 anos, registrou os Yanomami pela primeira vez para a revista Realidade. O encontro mudou a vida da fotógrafa, que voltou numerosas vezes ao território para documentar aquela cultura ainda relativamente isolada.

Claudia Andujar – A luta Yanomami foi realizada com apoio e consultoria do Instituto Socioambiental (ISA) e colaboração da Hutukara Associação Yanomami (HAY).

Claudia A ndujar A luta Yanomami -IMS-Rio-foto-Rafael-Adorjan
Claudia A ndujar A luta Yanomami -IMS-Rio-foto-Rafael-Adorjan – DIvulgação

São Paulo

Avenida Paulista, 2424
CEP 01310-300 – São Paulo/SP
Tel.: (11) 2842-9120

Horário de visitação: de terça a domingo e feriados, das 10h às 20h; quintas, das 10h às 22h

Rio de Janeiro

Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
CEP 22451-040 – Rio de Janeiro/RJ
Tel.: (21) 3284-7400

Horário de visitação: de terça a domingo e feriados (exceto segunda), das 11h às 20h

Instituto Moreira Salles (IMS)

Colaborando com a RAIZ