RAIZ 08
SEM TERRA, MAS COM ARTE
A periferia nos assusta, a periferia nos revela.
No ápice do individualismo e do concentrado mundo dos lucros e aquisições, algo no ar parece dar uma volta no sentido gregário mais primitivo do homem. Numa ponta, a Internet, em geral e a chamada Web2.0, em particular, crescem solidamente baseadas na cultura do coletivo. Em outra ponta a Economia Solidária, coletivos criativos economicamente integrados como é uma Escola de Samba, ou uma Troça de Frevo, ou um forno comunitário no Alto do Moura em Pernambuco. Manifestações que mobilizam bairros, cidades e países. Como nós, que temos na RAIZ, uma produção artística coletiva histórica do artesanato, Teatro de Arena e hip-hop contemplamos os novos paradigmas econômicos e sociais?
Assim, fomos mergulhar nos campos com o MST , na periferia paulista pelas mãos da Semana de Arte da Periferia. Nos campos e na cidade, a periferia tão temida revela toda sua poesia e oportunidades para o futuro.
A periferia como centro aprofunda nossa compreensão de como é marcadamente forte nosso viés social, tribal, “da comunidade”. E como somos bonitos por natureza. No mergulho nas 12 horas da rave do Boi Maiobá nos mostra um universo lúdico único, cheio de tradição e descobertas. O famoso Boi maranhense ultrapassa em muito o mito e estigma do conhecido Bumba-meu-boi. Nos remédios apresentados pelo ANTÍDOTO do Itaú Cultural pelas receitas de diferentes periferias. Vemos uma cultura viva também pulsando na caminhada dos Griôs para formar novos mestres; nas ações públicas em reconhecimento desses nossos mestres – nosso “Fareinhet 495” desde sempre e tão importante para uma cultura oral, pois analfabeta.
Na revelação do potencial artístico de nossa produção popular fomos decifrar o barro e as cores. Das Loiceiras da Paraíba, mais uma exemplo de apropriação coletiva, ao porque da ausência da nossa pintura popular das grandes curadorias. A pintura que sai das telas e vai para os muros grafitados. A pintura onde o simbólico popular dialoga em alto nível com o contemporâneo em forma e cores.
Para finalizar fomos aos percursos continentais brasileiros. A pesca da Tainha determina toda uma cadeia de valores materiais e culturais. E fomos bater pernas no resgate do nosso mais antigo caminho colonial, de Salvador ao Mato Grosso desde 1736. Também falamos do Museu de Percursos do Vale do Jequitinhonha que nasce fruto da parceria entre a Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, a FUNDEP e as prefeituras municipais das cidades envolvidas. Mais uma ação estruturadora da Secretaria de Cultura mineira para uma costura de várias matrizes cujo objetivo é dotar unidades museológicas como meio de preservar, difundir seu patrimônio cultural e colaborar com o seu desenvolvimento socioeconômico, turístico e cultural.
RAIZ.8 revela um mundo de possibilidades e oportunidades, que nos oferece uma visão rica e particular de uma cultura nova, feita no Brasil. Aproveitem e cresçam a nossa “comunidade”.
Edgard Junior