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Atlas da Amazônia Brasileira é lançado em Belém, PA

Colaborando com a RAIZ

Os textos do Atlas são assinados por pesquisadores, ativistas indígenas, quilombolas, ribeirinhos, agricultores, comunicadores e lideranças de base. Eles tratam de temas centrais como desmatamento, mudanças climáticas, direitos territoriais, racismo ambiental, transição energética, bioeconomia, saúde, segurança alimentar e a luta por soberania na Amazônia.

Também destacam experiências comunitárias que combinam saber tradicional e ciência, propondo alternativas sustentáveis e enraizadas no modo de vida dos povos da floresta.

Ao reunir diferentes vozes do território, o Atlas desafia o olhar tradicionalmente centralizador das políticas públicas e da produção de conhecimento sobre a Amazônia, falando com a Amazônia e não sobre.

Os autores e autoras do atlas têm trajetórias marcadas por pesquisa, resistência e ação coletiva. Eles oferecem uma análise aprofundada sobre os dilemas ambientais, sociais e políticos da região, ao mesmo tempo em que apresentam soluções concretas e contextualizadas.

Em um momento crucial, com os olhos do mundo voltados para a Amazônia devido à realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas no Brasil, em novembro, a Fundação Heinrich Böll, fundação política alemã com presença em mais de 35 países, lança o Atlas da Amazônia Brasileira. Pensado e produzido junto com especialistas e lideranças amazônidas, o Atlas é composto por 32 artigos que apresentam questões centrais sobre a maior floresta tropical do planeta, desconstruindo estereótipos da região e contribuindo para uma mudança de perspectiva, apresentada pelos diversos habitantes da região.

“Em meio à crise climática global, o lançamento do Atlas da Amazônia Brasileira é um marco essencial para ampliar o debate sobre o futuro e os desafios da região e abre um campo de aprendizagem para o mundo que se encontrará na COP 30, e com o evento sendo realizado em Belém em novembro”, afirma Regine Schönenberg, Diretora da Fundação Heinrich Böll no Brasil.

Com uma abordagem temática ampla, o Atlas serve como uma porta de entrada para o entendimento de temas cruciais a região, sendo instrumento de aprendizagem sobre as complexas relações que compõem esse imenso território, que vão desde a preservação ambiental e os saberes ancestrais, até a crescente violência e exploração ilegal, como na mineração. A obra também questiona o chamado “greenwashing”, ao mesmo tempo em que propõe alternativas para um desenvolvimento sustentável e justo. De acordo com a Fundação, o objetivo da publicação passa por provocar debates, diálogos e inspirar soluções para os diferentes desafios, de forma a incentivar um futuro sustentável e autodeterminado para a Amazônia e seus povos.

Segundo Aiala Colares, Membro do Conselho Editorial do Atlas, a publicação propõe uma radiografia da região para estrangeiros – geográficos ou não – servindo como contribuição para a defesa dos povos que estão na luta por justiça socioambiental. “Os textos que compõe o Atlas considero como importantes reflexões que tratam de uma Amazônia viva, que resiste em meio às contradições do desenvolvimento, portanto, dá visibilidade para questões que abordam os territórios indígenas, quilombolas, ribeirinhos, camponeses por uma perspectiva que denuncia as violações de direitos, e ter uma diversidade de autores de diversas áreas do conhecimento e ligados aos movimentos sociais diversos, dá esse caráter multidisciplinar e integrado à uma produção do conhecimento compactuado com a defesa floresta”, analisa.

O Atlas também será traduzido para vários outros idiomas reforçando o potencial de abrir novas perspectivas sobre conflitos semelhantes entre o homem e a natureza em outros países.

Saberes regionais

Com a Amazônia ganhando destaque nas manchetes internacionais devido à crescente degradação florestal e seus impactos globais, os saberes e dados apresentados no Atlas da Amazônia Brasileira pretendem contribuir com uma visão mais fiel da realidade.

Entre 2019 e 2022, a Amazônia registrou recordes de desmatamento (principalmente para abertura de pastagem para criação de gado); o garimpo ilegal em áreas protegidas (principalmente em Terras Indígenas da região amazônica) cresceu em 90%; e cidadãos estimulados pelo avanço da extrema direita se armaram – entre 2018 e 2022 o número de pessoas com registro de armas na Amazônia Ocidental aumentou 1.020%. Ao mesmo tempo, em 2022 a Amazônia reuniu mais de 1/5 dos assassinatos de defensores do meio ambiente em todo o mundo: foram 39 ativistas assassinados na região naquele ano.

Em 2023, o mundo teve acesso às angustiantes cenas da crise humanitária vivida pelo povo indígena Yanomami, cujo território, nos anos anteriores, foi tomado pela atividade garimpeira ilegal. No mesmo ano, a Amazônia foi assolada por uma intensa crise climática, com secas extremas e rios alcançando os mais baixos níveis já registrados, o que, além da morte de animais, impactou sua extensa infraestrutura fluvial, levando à escassez de água potável e alimentos, além da dificuldade de acesso a aparelhos públicos.

Os danos não foram totalmente superados e outra seca atingiu a região em 2024. No mesmo ano, o bioma amazônico concentrou o maior número de focos de incêndio dos 17 anos anteriores, e o impacto da fumaça na qualidade do ar prejudicou a saúde de milhares de pessoas – sendo transportada pela atmosfera para outros estados das regiões Centro Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Outros biomas que compõem a Amazônia Legal, como o Pantanal e o Cerrado, também atingiram recordes de queimadas.

Assim, os últimos anos parecem ter desenhado um futuro sombrio para a Amazônia e sua população, seja pelos impactos do colapso climático na região, seja pelas disputas políticas que ditam não apenas o ritmo da intensificação de crimes ambientais (cada vez mais organizados pelas facções do tráfico de drogas nos territórios), mas os interesses econômicos que orientam grandes projetos para a região.

Em contrapartida, a Amazônia é território de uma efervescente mobilização de movimentos sociais, coletivos e organizações socioambientais que têm se tornado linha de frente das discussões envolvendo tanto a gestão territorial regional, quanto a agenda climática global. Essa mobilização envolve a valorização dos modelos de pensamento dos povos e comunidades, que constroem relações com o território e seus seres bastante distintas daquelas que guiam os setores responsáveis pelo iminente colapso climático.

Sobre a Fundação Heinrich Böll

A Fundação Heinrich Böll é uma fundação política alemã, presente em mais de 35 países. Seus seis escritórios na América Latina têm um compromisso especial com as organizações da sociedade civil do campo crítico porque acreditam que essas são fundamentais para o fortalecimento democrático. Promover diálogos pela democracia e buscar a garantia dos direitos humanos; atuar em defesa da justiça socioambiental e direitos digitais; defender os direitos das mulheres e se posicionar como antirracista são os valores que impulsionam as ideias e ações da Fundação. A instituição tem parceiros que atuam na Amazônia desde sua chegada ao Brasil. São organizações que estão juntos de povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e grupos de mulheres em projetos de desenvolvimento regional e alternativas como o agroextrativismo e agroecologia. A Fundação também apoia diálogos e debates que buscam refletir e analisar os impactos para os direitos territoriais dos megaprojetos de mineração, infraestrutura e agronegócio. No Brasil, a organização apoia projetos de diversas organizações da sociedade civil, organiza debates e produz publicações gratuitas. Entre os últimos Atlas, estão: Agronegócio, Agrotóxicos, do Plástico e dos Insetos. No campo da justiça socioambiental, busca fortalecer o debate público que alie a defesa do meio ambiente com a garantia dos direitos dos povos do campo e da floresta.

Para mais informações, acesse Link:

https://br.boell.org/pt-br/atlas-da-amazonia

Colaborando com a RAIZ