MASP celebra obra de Abel Rodríguez em sua primeira mostra individual póstuma
A exposição percorre a obra de Rodríguez de forma analítica, apresentando seus desenhos como registros dos conhecimentos dos povos indígenas Nonuya e Muinane sobre a Amazônia colombiana de 10 de outubro de 2025 a 1 de fevereiro de 2026.
O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta a exposição Abel Rodríguez (Mogaje Guihu): A árvore da vida e da abundância, primeira mostra individual do artista colombiano após seu falecimento. A exposição oferece um panorama da obra de Abel Rodríguez (Cahuinarí, Colômbia, 1941–2025), reconhecida pela contribuição única à representação e organização dos saberes ancestrais sobre a flora e a fauna da Amazônia colombiana.
O título da mostra reúne os dois nomes do artista: Mogaje Guihu, como é chamado entre os povos Muinane e Nonuya, e Abel Rodríguez, nome em espanhol que adotou quando foi forçado a sair da floresta. Na infância, Rodríguez recebeu de sua família muinane a formação para ser um sabedor, aprendendo a identificar e compreender os usos prático e simbólico das plantas e suas relações com outros seres.
Sua vivência na Amazônia colombiana resultou em registros sobre as plantas, seus ciclos e estações da floresta em intrincados desenhos desenvolvidos a partir dos anos 1990, quando, a partir dos estímulos dos pesquisadores da fundação Tropenbos, começou a desenhar. Ao longo do tempo, seu trabalho começou a ser reconhecido pela cena de arte colombiana e internacional. Por sua contribuição ao debate sobre arte e natureza, o artista conquistou o Prêmio Prince Claus, o que ampliou a visibilidade de sua obra e o levou a participar de importantes bienais pelo mundo, como as de São Paulo, Veneza, Toronto, Gwangju, Sydney, além da documenta de Kassel.
Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Leandro Muniz, curador assistente, MASP, a mostra propõe um olhar analítico sobre a obra do artista, que rompe com o desenho botânico tradicional ao registrar a fauna e a flora da região a partir da perspectiva de seus conhecimentos ancestrais que partem de uma visão integrada da natureza. Enquanto a botânica tradicional disseca e descontextualiza as plantas, Rodríguez apresenta uma visão inter-relacional do ecossistema. “Meu conhecimento não é biológico. Ele é materialmente, espiritualmente e sentimentalmente conectado à floresta, à energia dela”, disse Abel Rodríguez, em 2024. Esse princípio orienta a estrutura da exposição em quatro núcleos: Árvores mitológicas, Desenhos botânicos, Ciclos, e Natureza integrada.

O núcleo Árvores mitológicas reúne desenhos de Rodríguez baseados nas narrativas Nonuya-Muinane sobre a criação do mundo. As árvores da vida e da abundância remetem à primeira árvore que origina a Amazônia e a momentos em que animais e humanos testam e disputam seus frutos até alcançar a harmonia social, desfeita pela ganância dos humanos, que derrubam a árvore a machadadas.
Aquarelas de pequenas dimensões estabelecem um paralelo entre o desenho botânico ocidental, difundido pelas expansões coloniais a partir do século 18, e os sistemas classificatórios indígenas. Trabalhos como Plantas cultivadas de la gente del centro Plantas cultivadas da gente do centro revelam a integração entre plantas, animais e suas funções sociais, ao mesmo tempo que registram ecossistemas, territórios e culturas, reunidos no núcleo Desenhos botânicos.
O núcleo Ciclos apresenta sequências visuais que mapeiam as transformações sazonais da floresta. As obras registram ciclos como o da floresta inundável que se transforma de acordo com o movimento de cheia e vazante dos rios, organizando a rotação de plantios na agricultura familiar da região e os períodos para a construção das malocas, habitações coletivas que estruturam a vida social indígena.
Os últimos trabalhos de Abel Rodríguez, incluindo obras de 2024 e 2025, apresentam uma visão do território na qual todos os elementos se conectam. Desenhos densamente povoados revelam comunidades indígenas, plantas e animais, seus hábitos e a convivência mútua, que formam o núcleo final da exposição, Natureza integrada.
Abel Rodríguez (Mogaje Guihu): A árvore da vida e da abundância integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da ecologia. A programação do ano também inclui mostras de Mulheres Atingidas por Barragens, Claude Monet, Frans Krajcberg, Clarissa Tossin, Hulda Guzmán, Minerva Cuevas e a grande coletiva Histórias da ecologia.
SOBRE O ARTISTA
Abel Rodríguez (Cahuinarí, Colômbia, 1941–2025), cujo nome indígena é Mogaje Guihu, nasceu às margens do Rio Cahuinarí, na Amazônia colombiana, e é originário das comunidades Nonuya e Muinane. Sua data de nascimento exata é incerta — a mais provável é 1941, mas aparecem os anos 1940 e 1944 em publicações e exposições —, pois, como outros povos da região central da floresta amazônica, os Nonuya e os Muinane medem o tempo de forma diferente. Desde a infância, foi treinado para ser um sabedor, depositário dos conhecimentos sobre as espécies botânicas da floresta, seus usos práticos e simbólicos. Nos anos 1990, fugindo dos conflitos armados em sua região natal, mudou-se para Bogotá, onde, em contato com a fundação holandesa Tropenbos, foi incentivado a desenhar para registrar e compartilhar suas memórias. Rodríguez participou de diversas exposições, entre as quais documenta de Kassel (2017), Bienal de São Paulo (2021), Bienal de Sydney (2022) e Bienal de Veneza (2024).

ACESSIBILIDADE
Todas as exposições temporárias do MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e seu acompanhante. São oferecidas visitas em Libras ou descritivas, além de textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais em linguagem fácil — com narração, legendagem e interpretação em Libras que descrevem e comentam os espaços e as obras. Os conteúdos, disponíveis no site e no canal do YouTube do museu, podem ser utilizados por pessoas com deficiência, públicos escolares, professores, pessoas não alfabetizadas e interessados em geral.
CATÁLOGO
Será publicado um catálogo bilíngue, em inglês e português, reunindo imagens e textos sobre a exposição e a obra do artista de forma mais ampla. O livro tem organização editorial de Adriano Pedrosa e Leandro Muniz, e inclui textos de Catalina Vargas Tovar, Denilson Baniwa, José Roca, Leandro Muniz e Oscar Roldan Alzate. O catálogo também conta com um glossário, organizado por Muniz e David Queiroz, assistente de pesquisa, que evidencia termos da cosmovisão Nonuya-Muinane e conceitos fundamentais do trabalho de Abel Rodríguez.
REALIZAÇÃO
Abel Rodríguez (Mogaje Guihu): A árvore da vida e da abundância é realizada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e patrocínio da Vivo.
SERVIÇO
Abel Rodríguez (Mogaje Guihu): A árvore da vida e da abundância
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Leandro Muniz, curador assistente, MASP
10.10.25 — 1.2.26
1° subsolo, Edifício Lina Bo Bardi
MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1510 – Bela Vista, São Paulo, SP 01310-200
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terças grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta e quinta das 10h às 18h (entrada até as 17h); sexta das 10h às 21h (entrada gratuita das 18h às 20h30); sábado e domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas.
Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$ 75 (entrada); R$ 37 (meia-entrada)
