CanaisDestaquesVisuais

Antônio Roseno de Lima um artista maior no CCBB RJ

Colaborando com a RAIZ

A exposição “A.R.L. Vida e Obra” é uma oportunidade única para o público conhecer a produção de Antônio Roseno de Lima, artista outsider descoberto no final da década de 1980 pelo professor doutor do Instituto de Artes da UNICAMP, Geraldo Porto, que também assina a curadoria da mostra. Semianalfabeto, o fotógrafo e pintor tirou da dura realidade de favelado a inspiração para criar uma obra que é reflexo da mais pura e encantadora arte bruta, onde autorretratos, onças, vacas, galos, Santos Dumont, bêbados, mulheres e presidentes foram seus temas principais.

A exposição “A.R.L. Vida e Obra”, em cartaz até 19 de agosto, é uma oportunidade única para o público conhecer a produção de Antônio Roseno de Lima, artista outsider descoberto no final da década de 1980 pelo professor doutor do Instituto de Artes da UNICAMP, Geraldo Porto, que também assina a curadoria da mostra. Semianalfabeto, o fotógrafo e pintor tirou da dura realidade de favelado a inspiração para criar uma obra que é reflexo da mais pura e encantadora arte bruta, onde autorretratos, onças, vacas, galos, Santos Dumont, bêbados, mulheres e presidentes foram seus temas principais.

Apesar das condições precárias em que vivia na favela Três Marias, em Campinas – SP (onde morou de 1962 até sua morte, em junho de 1998), Roseno expressava seus sonhos e observações do cotidiano através de suas pinturas, muitas vezes utilizando materiais improvisados encontrados no lixo: pedaços de latas, papelão, madeira e restos de esmalte sintético. Quando gostava de algum desenho, recortava-o em latas de vários tamanhos para usar como modelo, além de outros materiais como lã, em épocas de frio. Seu barraco era sua tela, onde cores vibrantes e figuras contornadas em preto ganhavam vida, revelando uma poesia visual única. Nas obras, as diversas aspirações do artista são representadas, mas uma delas se repete em toda a sua arte: “Queria ser um passarinho para conhecer o mundo inteiro!”

A exposição está dividida em seis seções, apresentando um panorama completo das diversas facetas do artista. Na primeira delas, “O Bêbado”, vislumbramos as raízes de A.R.L. em sua arte, onde se destacam cores chapadas e não existem meios-tons ou efeito de claro-escuro, além do uso de palavras. Iniciada em 1975, essa série traz rostos de olhos embaralhados e alucinados pela bebida, trabalho que o projetou como artista no mercado internacional, se tornando sua marca registrada. Em “Recortes da Cidade”, mergulhamos nas aspirações e fantasias do artista, onde o vemos estampado em notas de dinheiro (fora de circulação); a casa bonita, colorida e com luz elétrica; o prédio moderno e a fábrica onde almejava trabalhar.

Na seção “Presidentes” figuram fatos históricos e notáveis como Afonso Pena, Nilo Peçanha, Getúlio Vargas, Mário de Andrade e Santos Dumont, o seu maior ídolo (aquele que provavelmente lhe embutiu o desejo de ser um passarinho). Já em “O Fotógrafo”, temos reflexos de sua grande paixão, o ofício que aprendeu a exercer aos 35 anos, em São Paulo capital, e tentou manter vivo no interior (Indaiatuba), mesmo depois de fechar seu estúdio por falta de recursos. “Frutos, Flores e Animais” trazem composições ingênuas de galos, sapos, cavalos, gatos, capivaras e onças ou ainda quadros com traços quase “picassianos” de vacas. “Mulheres e Santas” completa o passeio pela alma criativa de Roseno, um galanteador que gostava de retratar mulheres bonitas, e que seguiu as homenageando em forma de sereias ou à imagem de Nossa Senhora Aparecida.

Bêbado, Antônio Roseno de LIma - foto Joaquim Sacco
Bêbado, Antônio Roseno de LIma – foto Joaquim Sacco

O BÊBADO

A série O Bêbado foi a primeira guardada por A.R.L. e o projetou internacionalmente como artista, pois estampa livros importantes como L’art Brut, de Lucienne Peiry.
Iniciada em 1975, Roseno inspirou-se em uma gravura de bares com o rosto de olhos embaralhados e alucinado pela bebida.
Nela, está uma forte marca da obra do artista: cores chapadas (feitas com esmalte sintético puro, sem meiostons ou efeito de claro-escuro), assim como o uso de palavras. Roseno era semianalfabeto; as palavras eram parte de sua expressão poética, como uma espécie de signos herméticos, expostos respeitando a anterioridade das figuras e evidenciando desconhecimento de regras gramaticais. Apresentado por jornais como favelado, semianalfabeto e doente, A.R.L. reagiu a tais rótulos escrevendo em vários quadros, em letras garrafais: “sou um homem muito inteligente”.

Antônio Roseno de LIma - foto Ricardo LIma
Antônio Roseno de LIma – foto Ricardo LIma

ANTÔNIO ROSENO DE LIMA NASCEU EM ALEXANDRIA, RIO GRANDE DO NORTE, EM 1926

De sua cidade natal, como tantos outros, foi para o centro-sul do Brasil fugindo da seca e jamais fez o caminho de volta. Veio para São Paulo deixando mulher e cinco filhos, sonhando em trabalhar e ganhar muito dinheiro.

Em 1961, aos 35 anos de idade, fez um curso de fotografia e passou a exercer o ofício registrando o cotidiano de crianças – além de aniversários e casamentos – e as fotos logo ganharam as nuances de seus traços.

Mudou-se para a favela Três Marias (Campinas) em 1976 e viveu ali até a sua morte, em junho de 1998.
Em um barraco miserável, pintava em cima de uma mesa abarrotada de papéis e objetos, onde também comia e contava o dinheiro que recebia das crianças da favela em troca de doces.

Tinha compulsão pelo registro de seu cotidiano em tudo que poderia ser utilizado, trabalhando em séries nas quais repetia a mesma figura inúmeras vezes, usando sempre materiais precários: pedaços de latas retirados dos entulhos, papelões, madeira, esmalte sintético das sobras das latas utilizadas para pintar portas e janelas encontradas no lixo. Sua obra contém códigos que permeiam todo o processo criativo, em um minucioso exercício artesanal, com destaque para a assinatura A.R.L., tão cara a um artista semianalfabeto. Mesmo com o apadrinhamento do professor Geraldo Porto, participou de poucas exposições, sendo a primeira individual na Casa Triângulo (São Paulo) em 1991, seguida pela coletiva A pintura em Campinas: o contemporâneo no Centro de Informática e Cultura, em 1992. Ainda fez uma
individual na Cavin Morris Gallery em Nova Iorque, em 1995.

Uma faxina para afugentar ratos e baratas de seu barraco fez com que pelo menos 500 de suas obras fossem parar no caminhão de lixo. Ainda assim, uma grande coleção das suas melhores fotografias está hoje no Centro de Memória da Universidade Estadual de Campinas e suas pinturas entraram no acervo de importantes museus, como a famosa
Collection de l’Art Brut, de Lausanne, Suíça e o Museu Haus Cajeth, em Heidelberg, na Alemanha.

SERVIÇO

Curador | Geraldo Porto
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro
Endereço: Rua Primeiro de Março, nº 66 – 4º andar – Centro, Rio de Janeiro/RJ
Período: 04 de setembro a 28 de outubro de 2024
Funcionamento: De quarta a segunda, das 9h às 20h (fecha às terças).
Contato: (21) 3808 2020 | ccbbrio@bb.com.br
Acesso: Gratuito, mediante retirada de ingresso na bilheteria física do CCBB Rio ou no site bb.com.br/cultura
Classificação Indicativa | Livre

Colaborando com a RAIZ