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Carreta viaja 3 mil km para ‎levar cinema gratuito a Amazônia

Colaborando com a RAIZ

Projeto com patrocínio via Lei Rouanet disponibiliza sessões à população com ‎‎pouco ou nenhum acesso ao cinema; exibições na capital amazonense.

Imagine uma sala de cinema sobre rodas, percorrendo estradas e flutuando por ‎dias em rios para chegar até a Amazônia e levar, gratuitamente, o ‎encantamento da telona a quem talvez nunca tenha experimentado assistir a ‎um filme fora da televisão. Parece roteiro de ficção, mas é realidade e está ‎prestes a ganhar nova cena. Entre os dias 24 de abril a 1º de maio, dois bairros ‎de Manaus (AM) receberão um cinema itinerante que viaja o Brasil há 15 anos ‎com uma missão urgente: democratizar o acesso à cultura em regiões onde ir ‎ao cinema ainda é algo distante.‎

Para chegar à capital amazonense, o cinema itinerante do Instituto Acerte ‎enfrenta uma viagem de aproximadamente sete dias por terra e navega por ‎balsa. Isso porque, em sua última apresentação nesta primeira temporada de ‎‎2025, iniciada em março, a carreta esteve em Goiana (PE). Antes disso, se ‎apresentou em outros estados, passando por cidades como Santa Bárbara ‎D’Oeste (SP), Curitiba (PR) e Betim (MG). Agora, a carreta segue para Manaus ‎‎(AM), último município para exibições nesta primeira temporada do ano. ‎

O projeto já passou por mais de 700 cidades de todas as regiões do país ‎impactando mais de 700 mil pessoas, especialmente alunos da rede pública de ‎ensino.‎

No início de 2025, ele ganhou o nome MobiMovie DENSO, marca da empresa ‎que patrocinou a viagem da carreta para os cinco municípios citados durante a ‎empreitada interestadual, também fomentada por meio da Lei Federal de ‎Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). ‎

E, diferentemente de todos os trajetos até hoje percorridos pela carreta ao longo ‎dos 15 anos de estrada, a viagem do MobiMovie DENSO até Manaus expõe ‎uma logística desafiadora e que reflete o tamanho do compromisso do projeto ‎com a transformação social por meio da arte.‎

A cada quilômetro ou, neste caso, a cada milha fluvial, a cultura é reafirmada ‎como direito.

Apagão cultural

Reafirmar a relevância do cinema itinerante como instrumento democrático da ‎cultura não é exagero. Dados da Ancine e do IBGE apontam que apenas 9% ‎dos municípios brasileiros possuem salas de cinema. Cerca de 84 milhões de ‎brasileiros vivem em cidades sem qualquer acesso ao cinema, o que ajuda a ‎explicar a baixa relação de uma sala para cada 58 mil habitantes no país. A ‎título de comparação, países como Argentina (1 para 49 mil), Chile (1 para 39 ‎mil), Uruguai (1 para 36 mil), México (1 para 17 mil) e Coreia do Sul (1 para 15 ‎mil) estão muito à frente do Brasil em termos de acesso à sétima arte.‎

O abismo é ainda mais evidente quando se olha para a distribuição regional. ‎Na região Norte, 80% da população leva mais de uma hora para acessar uma ‎sala de cinema — no Sul, esse número é de apenas 14,9%.‎

É justamente nesse cenário de desigualdade que a presença da carreta do ‎Instituto Acerte ganha na Amazônia ganha ainda mais importância.‎

A carreta

Com aproximadamente 17 metros de extensão, a carreta é adaptada com ‎poltronas confortáveis e capacidade para 77 espectadores por sessão, além de ‎possuir climatização, isolamento térmico e acústico, projeção digital e ‎bomboniere, tudo o que um cinema proporciona. ‎

Ao longo das sessões, o espectador ganha pipoca e refrigerante gratuitamente, ‎melhorando ainda mais sua experiência com a telona.‎

Geralmente, a carreta permanece de dois a quatro dias em cada destino, em ‎locais definidos em parceria com as prefeituras. E oferece até cinco sessões por ‎dia, às 8h, 10h, 14h, 16h e 19h, todas gratuitas. Os ingressos são distribuídos ‎no local, uma hora antes do início da sessão. ‎

A iniciativa tem despertado o interesse de escolas públicas, que enxergam no ‎projeto uma oportunidade única de levar os alunos a uma experiência cultural ‎que, muitas vezes, não existiria de outra forma. Por isso, em muitos municípios, ‎nas exibições durante o dia, a prioridade é dada para alunos de escolas.‎

Colaborando com a RAIZ