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Exposição Caretas de Jardim (2008-2023)

Colaborando com a RAIZ

Por Alex Hermes

O que um rosto coberto revela? Essa pergunta é o motor de uma pesquisa visual de longa duração, realizada entre 2008 e 2023, que resultou no ensaio fotográfico “Caretas de Jardim”. O projeto é uma imersão na Festa dos Caretas, uma das mais potentes manifestações culturais do Cariri cearense, e uma investigação sobre o poder da máscara como um enigma e portal para o encantamento.

A festa, que ocorre anualmente durante a Semana Santa, é um complexo ritual de transformação social. Com origens que remontam a uma celebração rural de colheita no século XIX, onde se festejava um espantalho chamado “PAI VEI”, a tradição se urbanizou e absorveu a narrativa cristã. Hoje, seu clímax é a “Tomada do Sítio de Judas”, uma performance de justiça popular onde a comunidade, liderada pelos Caretas, encena a conquista do território do traidor.

Meu processo de documentação, ao longo de 15 anos, foi fundamentado em uma abordagem de Antropologia Visual que se distancia do modelo extrativista, focando no diálogo, na colaboração e no engajamento social com os brincantes e a comunidade. As imagens resultantes não são, portanto, um olhar externo, mas fragmentos de uma longa vivência, buscando compreender a festa a partir de dentro.

O foco central desta pesquisa é a máscara. Em Jardim, ela é a chave que abre as portas da performance. Feita de papelão, tecido, couro ou plástico, sua função primordial é garantir o anonimato. É esse anonimato que concede ao brincante uma liberdade ritual para subverter a ordem, para brincar, para “viver outras vidas” e, finalmente, para executar a tomada simbólica do poder. Cada fotografia do ensaio busca capturar a potência contida neste objeto: a máscara como passaporte para o delírio coletivo, como ferramenta de crítica social e como um artefato que, ao esconder um rosto, revela a alma de uma tradição.

O ensaio “Caretas de Jardim”, portanto, é um convite para explorar esse fascínio. É um arquivo de corpos transformados e territórios reinventados, que não busca resolver o enigma da máscara, mas sim partilhá-lo, celebrando sua força como um dos elementos mais ricos e misteriosos da cultura brasileira.

Colaborando com a RAIZ

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