Sai o catálogo da exposição 100 anos da Colônia Juliano Moreira
Lançamento do catálogo da exposição 100 anos da Colônia Juliano Moreira do Museu Bispo do Rosario marca uma nova perspectiva curatorial.
Mais de 300 obras e documentos ainda estarão disponíveis ao público na exposição do Museu Bispo do Rosario intitulada “100 Anos da Colônia Juliano Moreira: arquivos, territórios e imaginários”, a mostra traz elementos históricos, documentos do acervo institucional, obras de Arthur Bispo do Rosario, produções inéditas de artistas convidados e, também, do Ateliê Gaia.
O lançamento do catálogo marca, não apenas, o encerramento da exposição, mas o registro importante da história do espaço que é, também, símbolo de (re) existência. Com curadoria de Carolina Rodrigues, Gabriel Reis, Geovana Melo e Napê Rocha, a exposição aborda assuntos como: Mulheridades; Conexões Externas; Imaginações, Fabulações e Infâncias; Reflexões sobre o Tempo; e, o Trauma Colonial. A exposição ocupa os três andares do Museu com uma reflexão em torno de três temáticas gerais: arquivos, territórios e imaginários.
Para a Curadora Geral do Museu Bispo do Rosario, Carolina Rodrigues, a visão curatorial da exposição versa sobre as diferentes camadas de tempo presentes na Colônia Juliano Moreira, abordando este território para além do seu histórico enquanto instituição manicomial e privilegiando o repertório das histórias e narrativas das pessoas que viveram e vivem neste espaço.
”A exposição foi elaborada durante um ano e o processo de pesquisa reuniu visitas ao arquivo do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira e de outras instituições, como o Arquivo Nacional, ao acervo do Museu, e um amplo mergulho na memória da história oral desse território. Foram ouvidos participantes das oficinas, de eventos, conviventes, artistas, trabalhadores, crianças das escolas e moradores. Também, atrelada à memória oral do território, o Museu Bispo do Rosario destaca, nessa exposição, as vozes de Arthur Bispo do Rosario e Stella do Patrocínio, que estarão presentes em primeira pessoa, nos provocando a pensar sobre pertencimento, resistência e denúncia”, destaca.
Luciana Cerqueira e Rosângela Nery, diretora e vice-diretora do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira (IMASJM), respectivamente, corroboram as muitas histórias e estórias entrelaçadas ao longo desses 100 anos. “Com esse conjunto de narrativas também foram produzidas resistências, vidas, lutas, amores, festas e encontros. Contaremos essas histórias, mas contaremos também as histórias de quem pôde e pode celebrar conosco as reinvenções possíveis”.
Segundo Luciana, a proposta de trazer a Colônia Juliano Moreira para o próprio nome da exposição tem o objetivo de refletir os desafios semânticos ligados ao nome da instituição, que anteriormente era atrelado a dor e sofrimento e, ao longo desses 100 anos, vem construindo novas possibilidades de sentido, ampliando a visão desse território para um lugar de resistência, de efervescência cultural e de luta antimanicomial.
De acordo com o diretor do Museu Bispo do Rosario, Alexandre Trino, a exposição conta essa história, apresentando ao público, passagens importantes desse centenário. ”Desde a tragédia do manicômio, com narrativas e transformações dinâmicas deste espaço ao longo de todo esse tempo, que nos dão um panorama mais amplo para refletir criticamente o passado, e, ao mesmo tempo, evidenciar a potência transformadora do fechamento do manicômio para reinvenções significativas de encantamento e arte, com base na história do território e da Comunidade”, relembra o diretor.
O catálogo ficará disponível gratuitamente para os visitantes enquanto durarem as edições.

ARTISTAS CONVIDADOS
A exposição apresenta, além das obras de Arthur Bispo do Rosario, uma seleção de trabalhos que refletem a transformação e a vivência no território da Colônia Juliano Moreira. Entre os destaques estão as produções de 12 artistas do Ateliê Gaia, fundado na década de 1990, que se construiu enquanto um espaço dedicado à arte e que se iniciou a partir das oficinas de Gilmar Ferreira e Leonardo Lobão, artistas que foram institucionalizados na Colônia. A exposição apresentará, também, obras de trabalhadores, conviventes e participantes das oficinas de bordado, costura e mosaico, que são desenvolvidas no Memorial de Arte e Resistência do Museu. Além disso, estão em exibição trabalhos de artistas contemporâneos, como Paulo Nazareth, Jefferson Medeiros, Andrea Hygino, Leid Ane, Ayla de Oliveira, Guilhermina Augusti, Loren Minzu, Marcel Diogo, Ayra Aziza, Daniel Senise, Suzana Queiroga, entre tantos outros.
Exposições em cartaz:
- Para todo sonho, chão (até 18 de outubro)
- Arte.Vital (exposição de longa duração)
Marco dos 100 anos também marca mudança na visão curatorial do Museu
Na ocasião, também acontece a cerimônia de retirada e reposicionamento dos objetos manicomiais. O momento será dedicado à retirada de seu circuito expositivo de determinados instrumentos médicos que, ao longo do século XX, foram empregados nas práticas manicomiais e que hoje se impõem como símbolos de dor e suplício. Entre eles, aparelhos de eletroconvulsoterapia, tiras de contenção e utensílio destinado a procedimentos de lobotomia.
O coordenador de museologia do Museu, Vinicius José, atenta que a ação não constitui um ato de apagamento ou eliminação dessas peças. Pelo contrário, busca deslocá-las de sua condição de ‘objetos expostos’ para uma nova perspectiva crítica. ”O museu propõe que esses instrumentos passem a integrar uma nova coleção, denominada ‘Memorabilia do Hospício’. Essa coleção não pretende celebrar tais objetos, mas inscrevê-los em um espaço de reflexão ética. Eles deixam de ocupar o lugar de curiosidade, de testemunho clínico e semióforos reencenadores de tortura assumindo, assim a função de documentos históricos da violência institucionalizada. A cerimônia é, portanto, um rito de passagem museológica: desloca-se o olhar do registro técnico para a consciência política e social, afirmando que a preservação da memória não se faz pela perpetuação da violência, mas pela crítica e pelo reposicionamento simbólico dos signos que a representam. O Museu Bispo do Rosario, desta maneira, se movimenta em consonância com sua vocação antimanicomial reafirmando, com este gesto, seu compromisso em preservar e questionar e criticamente a memória deste território”, afirma categoricamente, o museólogo.
A partir deste momento, instrumentos médicos utilizados para ”tratamento” na época do funcionamento enquanto complexo manicomial, antes expostos ao lado das obras, agora deixarão a exposição para integrarem o acervo – que seguirão disponíveis para pesquisadores. A retirada dos dispositivos de controle e sofrimento psiquiátrico da exposição de longa duração é um ato que simboliza a nova direção curatorial, ratifica Carolina, endossando o que o museu vem adotando a partir da elaboração da exposição dos 100 anos da Colônia Juliano Moreira. ”Reafirmando nosso compromisso com o cuidado e o respeito à história das pessoas que passaram pela violência psiquiátrica, entendemos que a denúncia dessa violação de direitos não deverá passar por uma exibição que instigue uma curiosidade exotificante, mas sim, pela voz ativa das dessas pessoas que hoje refletem criticamente sobre esse passado e se posicionam a partir de seus repertórios de vida. Se trata de trazer o protagonismo para os verdadeiros detentores dessas narrativas”, conclui a Curadora Geral.

Museu Bispo do Rosario
A instituição é responsável pela preservação, conservação e difusão da obra de Arthur Bispo do Rosario, além de desenvolver exposições, ações educativas e projetos com a comunidade local. O Museu está situado na Colônia Juliano Moreira, no bairro da Taquara, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que revela um potencial criativo e artístico-cultural marcado pela trajetória de nomes fundamentais da arte brasileira, como Arthur Bispo do Rosario, Stella do Patrocínio e Antônio Bragança. O espaço também abriga o Ateliê Gaia, importante espaço de criação permanente que conta com a atuação de artistas residentes que vivenciam o cotidiano no museu criando uma relação de pertencimento e importância na instituição.
Compreendido como um Museu expandido, o Museu Bispo do Rosario se destaca também no sentido de que sua atenção está voltada para a construção de uma relação orgânica com a comunidade e para a promoção da saúde mental por meio da arte, a proposta se dá em um programa imersivo no território da Colônia Juliano Moreira, local atravessado por sucessivas transformações ao longo do tempo: de território indígena a engenho no período colonial, de complexo manicomial a bairro em que diversas camadas de temporalidade convivem em um mesmo espaço.
O Museu Bispo do Rosario é aberto ao público e os dias e horários para visitação são: de terça a sábado – das 9h às 17h – com entrada gratuita. O Lançamento do Catálogo e a Exposição dos 100 Anos da Colônia Juliano Moreira é uma realização do Museu Bispo do Rosário, apresentado pelo Ministério da Cultura, pela Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro e pela Secretaria Municipal de Cultura – com o patrocínio do Itaú e da Rede D’OR.
Serviço
Catálogo da exposição 100 ANOS DA COLÔNIA JULIANO MOREIRA
GRÁTIS
Local: Museu Bispo do Rosario
Endereço: Estr. Rodrigues Caldas, 3400 – Taquara, Rio de Janeiro – RJ
