Documentário inédito: Xingu Envenenado, ameaça aos povos indígenas
Produção do departamento de jornalista da TV Cultura mostra a poluição provocada por agrotóxicos no Xingu.
A TV Cultura exibe dia 20/7, às 18h30, o documentário inédito Xingu Envenenado, Ameaça aos Povos Indígenas, realizado pelo departamento de Jornalismo da emissora. O Território Indígena do Xingu, no coração do Brasil, pede socorro. Sitiado por grandes fazendas de monocultura, sobretudo de soja, milho e gergelim, as aldeias sofrem os efeitos da poluição provocada por agrotóxicos, que contaminam as águas dos rios e dos poços artesianos.
Com reportagem do jornalista Leão Serva e do fotógrafo Rogério Assis, que visitam a região há décadas, o documentário entrevista especialistas e indígenas, e partiu de pesquisas feitas a pedido da etnia kisedjê, que há tempos vem notando mudanças no gosto e no cheiro do peixe e da caça. Eles se queixam de coceiras, gripes, dores de cabeça, feridas na pele das crianças e outras enfermidades.
O Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso, tem 2,6 milhões de hectares, quase o tamanho do estado de Alagoas. As suspeitas de contaminação foram confirmadas por pesquisadores, biólogos e médicos da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A natureza também passou a se comportar de maneira estranha. Uma combinação dos efeitos do aquecimento global com a exposição aos agrotóxicos. Em meio a novas ondas de gafanhotos, a população de abelhas diminuiu e o mel virou produto escasso.
A pesquisa mostra que os agrotóxicos lançados sobre as lavouras por aviões, com o objetivo de combater pragas, têm um efeito ainda mais nocivo, porque o vento espalha o veneno pela água e pelo ar. O estudo encontrou 28 tipos de agrotóxicos que, nas amostras colhidas, estão dentro dos limites legais. Mas, juntos, são um coquetel perigoso para vida dos xinguanos, principalmente porque essa exposição é intensa e de longo prazo. O estudo também indica que os indígenas são mais vulneráveis aos fungicidas e pesticidas, da mesma forma que também sofrem mais com a exposição ao álcool e ao açúcar refinado, que não fazem parte de sua cultura tradicional.
Uma ameaça para as 16 etnias que ocupam a região do Xingu há mais de dois mil anos e que lutam para preservá-la. Para os kisedjê, a contaminação passou dos limites e eles decidiram que era hora de buscar abrigo em outras terras. Casas, postos de saúde, campos de futebol, toda a estrutura da aldeia ficou para trás.

Em 2019, com a ajuda de caminhões, eles rodaram quase 40 quilômetros até encontrar um novo endereço dentro da área demarcada pelo Governo Federal. Reconstruíram suas casas numa região que julgavam livres do glifosato e da atrazina, dois fortes herbicidas utilizados para o controle de plantas daninhas. Mas agora, sabem que o veneno acompanhou a mudança. A luta dos indígenas no Xingu enfrenta inimigos poderosos e muitos deles conseguem atingir o território mesmo estando longe dele. Fora dos limites do Xingu, as nascentes dos rios são contaminadas pelos agrotóxicos que levam o veneno para os rios, córregos e também para os poços artesianos utilizados pelos indígenas.
Apesar de tantas ameaças, o Xingu conta com as denúncias de fotógrafos e cinegrafistas, que visitam a região e denunciam violações dos direitos indígenas. E, agora, já tem o seu próprio realizador: Kamikia Kisedje perdeu a conta dos filmes que fez. É um cineasta premiado com o seu “Sukande Kasáká, Terra Doente”, filme de meia hora que recebeu o prêmio de melhor curta na “Mostra Ecofalante 2025”. Segundo o júri, “o filme tem a poesia como matéria-prima. Mostra a beleza da floresta, mas também os efeitos dos agrotóxicos sobre o povo Kisêtjê, forçado a abandonar e reconstruir sua aldeia, de novo e de novo”.