Documentário Territórios de Resistência – Florestanias, Sertanias, Ribeirias
O Sesc São Paulo lança o documentário “Territórios de Resistência – Florestanias, Sertanias, Ribeirias”, na plataforma Sesc Digital: Cinema – #EmCasaComSesc, e no site do SescTV. Fruto de uma parceria entre o Sesc Ipiranga, o Museu do Ipiranga e a Universidade de São Paulo (USP), a obra parte do registro da última atividade realizada durante a Ocupação Museu do Ipiranga, em 2019, para ressignificar o trabalho na perspectiva do audiovisual.
O documentário reúne registros da última atividade realizada durante a “Ocupação Museu do Ipiranga”, comentários de pensadores, líderes indígenas, pesquisadores e lideranças religiosas para discutir o papel simbólico do território nas disputas de narrativas e os processos de resistência.
O roteiro, estruturado em quatro partes – Narrativas em Disputa, Florestanias, Sertanias e Ribeirias – evidencia o contínuo processo de exploração dos territórios e as violências incessantes para estabelecer um controle hegemônico que desconsidera os modos de existência, os direitos e saberes de seus habitantes, e discute o papel ativo dos espaços físico e simbólico do museu na construção de narrativas e memórias e nos processos de resistência. A obra conta com legenda em português e tradução em Libras.
Ocupação Museu do Ipiranga
As ocupações artísticas realizadas no Museu do Ipiranga entre 2018 e 2019 buscaram chamar a atenção da sociedade civil para o museu – fechado desde 2013 para restauro, com previsão de abertura em 2022, ano que marca o bicentenário da independência – e para a inclusão de memórias que foram apagadas do processo histórico. A programação foi norteada a partir do reconhecimento da falta de representatividade de diferentes grupos sociais e da predominância de uma narrativa hegemônica representada de forma simbólica, pelas pinturas e esculturas que integram o acervo do Museu.
Territórios de Resistência, Narrativas em Disputa – Florestanias, Sertanias, Ribeirias, última ocupação artística do Museu do Ipiranga, foi concebida de forma colaborativa, envolvendo equipes do Sesc e do Museu sob a coordenação artística de Maria Thaís. A equipe de criação foi formada pela dramaturga Dione Carlos, os dramaturgos Murilo De Paula e Felipe de Moraes, pelos cantores Marlui Miranda, Sapopemba e Ana Flor de Carvalho, pelas atrizes Edi Cardoso, Gabriela Rabelo, Iléa Ferraz, Sandra Nanayna, os atores, Antonio Salvador e Walter Breda, e contou com a participação da liderança indígena David Karai Popygua, de um coro de jovens artistas da Escola Livre de Teatro de Santo André, da Fundação das Artes de São Caetano do Sul e do Projeto Vocacional.
As experimentações cênicas, que ocuparam o museu nos meses de maio a julho de 2019, se organizaram em um formato triplo, a partir de três territórios e dos seus modos de existência. Nomeados como florestanias, sertanias, ribeirias, os territórios foram relacionados a três obras do Acervo do Museu, Índio com arco e flecha (de Adrian Henri Vital Van Emelen), Baiana (autoria desconhecida) e Herói da Guerra do Paraguai (de Adrian Henri Vital Van Emelen).
As apresentações contaram com a participação de atores, cantores e coro, além de comentaristas convidados e do público presente. As leituras-manifesto foram narradas e cantadas, contrapondo textos e documentos históricos, relatos, cartas, notícias de jornal, poesias, trechos de livros e evocações que remontaram aos territórios e seus sujeitos, nos três primeiros séculos da colonização.
O Documentário
A linguagem audiovisual de Territórios de Resistência: Florestanias, Sertanias, Ribeirias mantém as estruturas poéticas das experimentações cênicas apresentadas durante a ocupação do Museu em 2019, servindo-se de parte dos registros das apresentações, mas incorporando outros materiais do acervo do Museu, como fotografias, pinturas, mapas e vídeos de outros acervos, além de comentários e entrevistas de pensadores, pesquisadores e lideranças indígenas e religiosas.
Integram o documentário as vozes de Claudia Truká (PE), Jerá Guarani (SP), Kota Mulanji (SP), Ailton Krenak (MG), Janja Araujo e Cacique Babau (BA), Fernanda Kaingang (RS), Leda Maria Martins (MG), Marcia Mura (RO), Sandra Benites (MS), Nego Bispo (PI), entre outras.
A construção dos roteiros manteve a forma tripartida que caracterizava as Leituras Cênicas, e foi coordenada pelo dramaturgo e roteirista Luís Alberto de Abreu, também responsável pelo roteiro do prólogo – Narrativas em Disputa – que inexistia na versão cênica. Murilo De Paula, Dione Carlos e Felipe de Moraes foram responsáveis, respectivamente, pelo primeiro tratamento do roteiro da tríade Florestanias, Sertanias, Ribeirias, criado a partir dos registros e materiais que integravam as experimentações cênicas e do diálogo com a equipe de criação.
No roteiro final, concebido por Maria Thais e Yghor Boy, com a colaboração de Ametonyo Silva, e de Murilo De Paula em Florestanias, a noção de uma polifonia narrativa orienta a composição. As muitas vozes presentes ora se complementam, ora se contradizem, ora criam outros caminhos discursivos e imagéticos sobre as temáticas e os modos de viver que se apresentam nesses territórios de resistência.
O processo de criação do documentário manteve também as dinâmicas criativas que originaram o projeto, contando ainda com a participação de Morris Picciotto (trilha sonora), Eduardo Joly, Flora Rouanet e Antonio Venancio (pesquisa iconográfica), Luiza Nadalutti (direção de arte), Solange Ferraz de Lima (consultoria histórica) e Géssica Arjona (direção de produção).
Narrativas em Disputa – prólogo
Narrativas em Disputa apresenta a noção de território a partir do Museu do Ipiranga, lugar que dá origem ao projeto e que se enuncia como um espaço de disputa simbólica e territorial, fazendo ecoar a pergunta que orientava as atividades da Ocupação: Que museu queremos em 2022? Por outro lado, o prólogo explicita duas perspectivas que estarão presentes ao longo de todo documentário, tensionando-as: dos povos e comunidades que concebem o território como abrigo, lugar de afeto, campo simbólico, que assegura seus modos de existir e, do outro lado, aquela que revela a incessante exploração do território, visto apenas como recurso material.
Florestanias
O retrato Índio com arco e flecha, pintado por Adrien Henri Vital Van Emelen, invade o mármore do Museu e reivindica sua existência e a pluralidade de suas vozes. A florestania, como modo de vida dos diversos povos e seres que habitavam e habitam os territórios que hoje constituem o território nacional, remete ao longo processo de colonização, dos conflitos pela terra, do processo de extermínio e, ao mesmo tempo, de resistência – e re-existência – dos povos originários.
Sertanias
A partir do quadro Baiana, de autoria desconhecida, destacam-se as entradas no sertão – o interior, o que está dentro, longe do mar – onde o processo colonial e a escravatura fincaram ferramentas de exploração seculares, principalmente, através da mineração. Territórios onde a resistência e os modos de existência e de reinvenção dos povos em diáspora surgem a partir das lideranças femininas, das Irmandades Negras, dos terreiros e/ou lugares que constituíam, e ainda constituem, um espaço social, político e religioso, autônomo.
Ribeirias
A partir da pintura Herói da Guerra do Paraguai de Van Emelen, uma viagem pelos rios Paraguai, São Francisco, Amazonas e Tietê evoca as disputas territoriais para a demarcação de fronteiras e as águas marcadas pelo sangue que constantemente escorre, desde a Guerra do Paraguai (1865-1870) às recentes explorações pelas grandes hidrelétricas. Se na Guerra do Paraguai, o governo e a elite brasileira forjaram uma identidade nacional e a instauração de um estado-nação, os seus combatentes – homens indígenas sob a promessa de receber as terras que lhes eram de direito, ou homens escravizados, mandados à batalha por seus senhores, com a promessa de liberdade, caso sobrevivessem – foram involuntariamente coagidos a lutar. Por outro lado, as populações que habitam as margens dos rios – formada por diversos povos originários, quilombolas, ribeirinhos – demonstram que o fluir das águas é potência poética, de revoltas e resistências.
SERVIÇO
Territórios de Resistência – Florestanias, Sertanias e Ribeirias
Roteiro e Direção: Maria Thaís e Yghor Boy
Lançamento: 30 de setembro de 2021, quinta-feira, às 19h
Em: www.sescsp.org.br/territoriosderesistencia e sesctv.org.br/resistencia
Documentário
105 min
Livre
Territórios de Resistência – Florestanias, Sertanias, Ribeirias
SOBRE O MUSEU DO IPIRANGA – USP
Fechado desde 2013, o Museu do Ipiranga é sede do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, e seguiu em atividade com eventos, cursos, palestras e oficinas em diversos espaços da cidade. As obras de restauro, ampliação e modernização do Museu são financiadas via Lei de Incentivo à Cultura. A gestão do Projeto Novo Museu do Ipiranga é feita de forma compartilhada pelo Comitê Gestor Museu do Ipiranga 2022, pela direção do Museu Paulista e pela Fundação de Apoio à USP (FUSP). As obras iniciaram em outubro de 2019 e a expectativa é que o museu seja reaberto em setembro de 2022, para a celebração do bicentenário da Independência do Brasil. Para mais informações sobre o restauro, acesse o site museudoipiranga2022.org.br.
O edifício, tombado pelo patrimônio histórico municipal, estadual e federal, foi construído entre 1885 e 1890 e está situado dentro do complexo do Parque Independência. Concebido originalmente como um monumento à Independência, tornou-se, em 1895, a sede do Museu do Estado, criado dois anos antes, sendo o museu público mais antigo de São Paulo e um dos mais antigos do país. Desde 1963, está sob administração da USP, atendendo às funções de ensino, pesquisa e extensão, pilares de atuação da Universidade.
Sobre o Sesc Ipiranga
Presente no bairro Ipiranga desde 1992, a unidade consolidou-se como importante espaço educativo, de cultura, esporte e lazer para idosos, crianças e adultos, expandindo suas ações para além do atendimento prioritário aos comerciários e promovendo atividades para toda a comunidade. Nos últimos anos foram intensificadas as parcerias com outras instituições e organizações sociais do entorno, o que possibilitou o desenvolvimento de ações de reurbanização e ocupação de espaços públicos por meio de programações artístico culturais, bem como a realização conjunta de projetos que ampliam o atendimento e promovem a aproximações dos diferentes públicos com a unidade. Durante a pandemia as ações programáticas foram expandidas por meio do fortalecimento de parcerias, projetos de promoção do trabalho comunitário, geração de renda e de atividades realizadas em formatos digitais.
Saiba mais em: sescsp.org.br/Ipiranga
SOBRE O SESC DIGITAL
A presença digital do Sesc São Paulo vem sendo construída desde 1996, sempre pautada pela distribuição diária de informações sobre seus programas, projetos e atividades e marcada pela experimentação. O propósito de expandir o alcance de suas ações socioculturais vem do interesse institucional pela crescente universalização de seu atendimento, incluindo públicos que não têm contato com as ações presenciais oferecidas nas 40 unidades operacionais espalhadas pelo estado. Por essa razão, o Sesc apresenta o Sesc Digital, sua plataforma de conteúdo.
Saiba mais em: sescsp.org.br/sescdigital.
SOBRE O SESCTV
O SescTV é um canal de difusão cultural do Sesc em São Paulo, distribuído gratuitamente, que tem como missão ampliar a ação do Sesc para todo o Brasil. Sua grade de programação é permeada por espetáculos, documentários, filmes e entrevistas. As atrações apresentam shows gravados ao vivo com grandes nomes da música e da dança. Documentários sobre artes visuais, teatro e sociedade abordam nomes, fatos e ideias da cultura brasileira. Ciclos temáticos de filmes e programas de entrevistas sobre literatura, cinema e outras artes também estão presentes na programação.
Para sintonizar o SescTV:
Canal 128, da Oi TV ou consulte sua operadora
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