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Coletivo Indígena Mahku em exposição no MASP

Colaborando com a RAIZ

O Coletivo Indígena Mahku em 120 pinturas, desenhos e esculturas, da etnia Huni Kuin (que vive no estado do Acre, na fronteira com o Peru) como resultado de traduções de cantos, mitos e visões desta etnia.

O MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta, de 24 de março até 11 de junho de 2023, a mostra MAHKU: Mirações, que ocupa o espaço expositivo no 2o subsolo do museu. Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP e Ibã Huni Kuin, curador convidado, a exposição reúne cerca de 120 pinturas e desenhos que se originam tanto de traduções e registros de cantos, mitos e histórias de sua ancestralidade, como de experiências visuais geradas pelos rituais de nixi pae – que envolvem a ingestão de ayahuasca – denominadas mirações, palavra que dá título à exposição no MASP. A mostra tem patrocínio master do Citibank.

Criado oficialmente em março de 2013, dez anos antes da abertura da exposição no MASP, o surgimento do Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU) remonta ao final da década de 2000, quando o coletivo iniciou, nos cursos de Licenciatura Indígena na Universidade Federal do Acre (UFC), seus trabalhos de tradução de cantos tradicionais do povo indígena Huni Kuin (Acre) em desenhos figurativos. Os primeiros registros do coletivo surgem, portanto, a partir do contato de populações indígenas aldeadas com a universidade, onde o grupo realizou sua primeira exposição, em 2011. No ano seguinte, após a visita do antropólogo Bruce Albert e do curador Hervé Chandès, os integrantes participam pela primeira vez de uma mostra de arte contemporânea, a exposição Histoires de voir, Show and Tell [Histórias para enxergar, ver e contar] na Fondation Cartier pour l’art contemporain, em Paris, com um desenho ilustrando a capa do respectivo catálogo. A partir do movimento de introdução da sua visualidade ao universo das exposições de arte, os Huni Kuin se apropriam disso como estratégia de sobrevivência coletiva, de extensão de suas histórias e de seus mitos.

A EXPOSIÇÃO

A exposição MAHKU: Mirações reúne cerca de 120 pinturas e desenhos em papel e tela, sendo três delas produzidas para a mostra, comissionadas pelo museu, além de esculturas, áudios com cantos, vídeo documentário e uma pintura de grandes dimensões elaborada diretamente nas laterais da icônica escada/rampa vermelha que interliga o 1° ao 2° subsolo do museu, seguindo, assim, a tradição do coletivo de realizar uma intervenção artística nos espaços expositivos que ocupam, criando uma conexão física e espacial entre mundos.

Este diálogo entre diferentes culturas é um dos temas centrais de algumas das obras do coletivo, especialmente aquelas inspiradas no mito de kapewë pukeni, o jacaré-ponte, traduzido, por exemplo, na pintura Kopenawe pukenibu (2022), de Acelino Tuin Huni Kuin. O mito narra a história da passagem dos Huni Kuin pelos dois continentes, através do estreito de Behring, em busca de sementes, moradia, conhecimento e terra. Depois de muita caminhada, o grupo se depara com um jacaré que, em troca de alimento, oferece ajuda para que eles possam atravessar para o outro lado.

O animal, avesso ao canibalismo, pede que o povo não mate um jacaré pequeno e que não lhe dê um deles para comer. No entanto, quando a variedade de animais se torna escassa, os Huni Kuin caçam o jacaré menor, traindo a confiança do jacaré grande, que submerge. “Foi aí que se fundaram as línguas diferentes entre parentes do outro lado do mundo. O mundo sempre divisão. Quem atravessa o mundo é quem já conquistou os conhecimentos. Por isso que a música do jacaré cantamos em nossas reuniões, para abrir os caminhos”, explica o curador convidado Ibã Huni Kuin. Por essa razão, a figura do animal foi escolhida pelo coletivo para ilustrar o logotipo original do MAHKU. Nele o jacaré aparece com duas patas caminhando e alimentando-se, enquanto pessoas munidas de estilingues e flechas passam sobre suas costas. Trata-se de uma cena fundacional que sugere que os Huni Kuin são produtores e produtos de pontes – entre os mundos indígena e não indígena, entre o visível e o invisível.

Outro ser muito importante para os Huni Kuin é a jiboia, considerada a maior dos xamãs, mensageira e ser da transformação. Normalmente o animal está presente em suas pinturas, circundando as composições, seja de forma a perambular pela imagem, seja literalmente em suas bordas, acompanhando os ângulos perpendiculares do quadro ou em formas geometrizadas estilizadas.

A jiboia é a figura central no mito de surgimento de nixi pae, “a bebida sagrada”, representada na tela do acervo do MASP Yube Inu Yube Shanu Mito do surgimento da bebida sagrada Nixi Pae. O mito narra o encontro de Yube Inu, um homem indígena, com Yube Shanu, a mulher-jiboia, e a acolhida do povo da jiboia a Yube Inu, que é introduzido ao ritual de nixi pae. Ele ingere a bebida sagrada, experiencia as mirações e, mais tarde, aprende a fazê-la e entra em contato com as músicas da serpente. Por um momento de ciúme de seu sogro, devido ao seu conhecimento adquirido, Yube Inu é mordido e acaba adoecendo, mas, antes de morrer, retorna ao seu povo de origem e ensina a receita da bebida.

Sem título, Movimento dos artistas Huni Kuin (MAHKU) | Jordão, Acre, Brasil

No ritual de nixi pae realizado pelos Huni Kuin e traduzido como “cipó forte”, “embriagante” ou “fio encantado”, se institui a experiência de encontro com a jiboia. Trata-se de um ritual central na vida desse povo, que envolve toda a comunidade – desde crianças de 6 anos de idade até adultos e idosos. As mirações, experiências visionárias que aparecem durante os rituais, são traduzidas tanto nos desenhos e pinturas do coletivo quanto nos cantos que integram o cotidiano da aldeia Chico Curumim, na Terra Indígena Kaxinawá, do Rio Jordão, onde vivem os artistas do MAHKU.

A mostra no MASP pretende, portanto, ampliar o conhecimento sobre e com os Huni Kuin, assim como a compreensão da contribuição de sua obra para a arte contemporânea, além de celebrar a longa relação de trabalho entre o coletivo e o museu. Desde 2016, os artistas do MAHKU participam de exposições do MASP, o que é constatado na grande quantidade de obras de diferentes períodos de sua produção comissionadas e depois doadas ao acervo do museu. Os artistas já participaram das exposições Avenida Paulista (2017), Histórias da dança (2020) e Histórias brasileiras (2022), além de uma oficina em Histórias da infância (2017) e dos projetos MASP Renner 1a temporada (2018-2019) e MASP Afterall ArtSchool (2020).


SOBRE O MAHKU

O Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU) foi lançado oficialmente em 2013 e é composto pelos artistas Ibã Huni Kuin, Bane Huni Kuin, Mana Huni Kuin, Acelino Tuin e Kássia Borges. O coletivo realizou as exposições individuais Yube Inu, Yube Shanu, na Piero Atchugarry Gallery, no Uruguai (2022); Cantos da imagem, na Casa de Cultura do Parque, em São Paulo (2022); Vende tela, compra terra, na SBC Galerie d’Art Contemporain, no Canadá (2022); Através da poética do MAHKU, na Galeria de Arte da Universidade Federal do Amazonas, em Manaus (2018); e O espírito da floresta – desenhando os cantos nixi pae, no Sesc Rio Branco (2011). Participou de mostras coletivas como Histórias brasileiras, no MASP (2022); Moquém Surarî: arte indígena contemporânea, no MAM-SP (2021); IMS quarentena: programa convida, em exposição virtual no Instituto Moreira Salles (2021); Véxoa: Nós sabemos, na Pinacoteca do Estado de São Paulo (2020); Histórias da dança, exposição virtual no MASP (2020); Vaivém, no Centro Cultural Banco do Brasil (2019); Eldorado, no Maison Folie Moulins, na França (2020); 35º Panorama de Arte Brasileira: Brasil por multiplicação, no MAM-SP (2017); Avenida Paulista, no MASP (2017); Aru Kuxipa/ Sagrado segredo, no Thyssen-Bornemisza Art Contemporary, na Áustria (2015); Histórias mestiças, no Instituto Tomie Ohtake (2014); e Histoires de voir, no Fondation Cartier pour l’art contemporain, na França (2012). Suas obras fazem parte de coleções do MASP, MAR, da Fundação Cartier por L’art contemporain, da Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre outras.

Sem título, Movimento dos artistas Huni Kuin (MAHKU) | Jordão, Acre, Brasil

CATÁLOGO

Na ocasião da mostra, será publicado um catálogo bilíngue com ensaios comissionados especialmente para a ocasião, além de reproduções de trabalhos produzidos pelo grupo e traduções de mitos e cantos Huni Kuin. O livro, organizado por Adriano Pedrosa e Guilherme Giufrida, inclui textos de Daniel Revillion Dinato, Guilherme Giufrida, Ibã Huni Kuin, Naine Terena e Raphael Fonseca. Com design de Bloco Gráfico, a publicação tem edição em capa dura.


SERVIÇO

MAHKU: Mirações
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP; e Ibã Huni Kuin, curador convidado.

2o subsolo
Período: 24.03 — 11.06.2023
MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista
01310-200 São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terça grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas
Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$ 60 (entrada); R$ 30 (meia-entrada)

www.masp.org.br
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twitter.com/maspmuseu
instagram.com/masp

SERVIÇO
AV Paulista, 1578
01310-200

São Paulo Brasil
+55 11 3149 5959


SOBRE OS CURADORES

ADRIANO PEDROSA
Adriano Pedrosa é curador, ensaísta e diretor Artístico no MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand desde 2014. Foi cocurador da 27ª Bienal de São Paulo e curador responsável do Museu de Arte da Pampulha. Formado em direito pela UERJ e com pós-graduação em artes visuais e curadoria, tem experiências de curadoria nacional e internacional em diferentes países, como Estados Unidos, Turquia, Canadá, Jordânia e México.

GUILHERME GIUFRIDA
Guilherme Giufrida é mestre em Antropologia Social pelo Museu Nacional (UFRJ) e foi pesquisador visitante na Sciences Po-Paris. É curador assistente no MASP, onde integra a equipe curatorial desde 2018. Realizou a curadoria das exposições Luiz Zerbini: A mesma história nunca é mesma, Histórias brasileiras, MAHKU: Mirações; além do livro O MASP de Lina, entre outras. Foi curador do museu do louvre pau-brazyl e assistente curatorial da 10ª Bienal de Arquitetura de São Paulo. Realizou também os documentários O Castelo (direção), Banco Imobiliário (pesquisa) e Filhos de Macunaima (roteiro).

HUNI KUIN
Ibã huni Kuin (Isaías Sales) é um txana, mestre dos cantos na tradição do povo huni kuin. Ao tornar-se professor na década de 80, aliou os saberes de seu pai Tuin Huni Kuin aos conhecimentos ocidentais, passando a pesquisar na escrita a sua tradição junto com seus alunos. Ingressa na Universidade (Universidade Federal do Acre, Cruzeiro do Sul, AC) em 2008 e cria o Projeto Espírito da floresta visando, com seu filho Bane, pesquisar processos tradutórios multimídia para esses cantos compondo o coletivo MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin.


Colaborando com a RAIZ